Um dos melhores lugares de escalada esportiva no Brasil é zona de escalada conhecida como Lapinha. Localizada próximo à Belo Horizonte teve seu fechamento decretado no início deste século, e desde então houve muita luta e batalhas para que pudesse ser reaberta para a escalada.

Após o anúncio, e a espera de que as coisas engrenassem de acordo com o tempo e recursos procurei o pessoal da FEMEMG para que pudessem falar mais sobre o assunto.

Tive a sorte de poder ter como entrevistado o escalador mineiro Lugoma. Emnbora apenas o conhecer á distância e com pequenas conversas que tive nas vezes que nos cruzamos sempre ouvi coisas elogiosas sobre ele.

Luis gentilmente dentro de seu curto tempo disponível disponibilizou a entrevista abaixo. A entevista também teve a colaboração de Edgardo Abreu e Pedro Leite (GT Lapinha / AME)

1 – Como começou o processo que culminou no fechamento da Lapinha?

O fechamento das áreas de escaladas como

- Gruta do Baú, localizada na Área de Proteção Ambiental Federal (APA CARSTE/ICMBio) em Pedro Leopoldo

- Monumento Natural Estadual Gruta Rei do Mato (MNEGRM/IEF-MG) em Sete Lagoas

- Lapinha no Parque Estadual do Sumidouro (PESU/IEF-MG)

Possuem como denominador comum o patrimônio espeleológico, arqueológico e paleontológico de dezenas de grutas/cavernas existentes na região.

Em 2001, o órgão responsável pelas grutas (CECAV/IBAMA), realizou um Seminário temático sobre o uso turístico de cavernas e grutas.

Neste evento foi determinado que a Gruta do Baú fosse fechada devido à falta do Plano de Manejo e que as demais grutas e cavernas da região teriam um prazo para realizar seus estudos.

A Lapinha, pelo mesmo motivo que a Gruta do Baú, em 2002, foi a segunda a fechar e posteriormente, em 2009, a Gruta Rei do Mato.

(obs: maiores detalhes sobre o fechamento da Lapinha consultar o informativo Mountain Voices no 100, onde é descrito toda a cronologia do fechamento para a prática de escalada na Lapinha).

2 – Como foi o processo de negociação para a reabertura do local?

Foram realizados em duas etapas:

1ª Etapa: À Nível Municipal (De 2001 à 2007) –

Iniciado antes do fechamento da área com a realização de dois Festivais / Encontros de Montanhistas e Escaladores, na Lapinha, com apoio da Prefeitura. Não houve acordo. (Ver: documentário “E as Vias da Lapinha?” produzido por Walfried Weissmann e Aulus Baia, lançado em 2010).

2ª Etapa: À Nível Estadual (2007 à ....) –

Planejamento, Fundamentação Técnica, muitas e muitas reuniões e principalmente desenvolvendo trabalhos em parceria com os órgãos ambientais (IEF-MG, CECAV/IBAMA, ICMBio) e profissionais do meio ambiente foram fundamentais para a abertura e consolidação da escalada como Uso Publico na Lapinha. De uma forma bem resumida, podemos descrever essa etapa da seguinte forma:

Em 2007, após 5 anos do fechamento da Lapinha, a Associação Mineira de Escalada (AME) foi convidada a participar e a assumir uma cadeira no 1º Conselho Consultivo do Parque Estadual do Sumidouro (PESU/ IEF-MG).

Com a posse, a AME, inicia o trabalho de conscientização do Conselho Consultivo e Gerência do PESU sobre o que é montanhismo/escalada e apresenta, em 2008, o trabalho intitulado “Proposta de Zoneamento das Áreas de Escalada em Rocha para o

Parque Estadual do Sumidouro”, realizado com participação de profissionais de diversas áreas como geógrafos, geólogos, biólogos, turismólogos e montanhistas que foi inserido no documento final do Plano de Manejo do PESU em 2009.

Em 2010, em Ouro Preto-MG, foi realizado o Seminário sobre a Regulamentação e Organização do Uso Publico em Unidades de Conservação com ênfase na Escalada/Montanhismo onde analistas ambientais, gestores e diretores de diversos parques e UC’s de Minas e outros estados

(ex: André Ilha e Sergio Poyares – INEA / RJ,
Sandro Souza - IEMA / ES),
Flávio Túlio - CECAV / IBAMA,
Mário Douglas - APA Carste Lagoa Santa-MG,
Edvar Elias e José Geraldo Araújo - APA Morro da Pedreira / Parque Nacional Serra do Cipó – ICMBio,
Soraya Cordeiro - APA Serra da Mantiqueira / ICMBio, Luiz Coslope - Parque Nacional do Itatiaia - PNI/ ICMBio, Ernesto de Castro e Kátia Torres – ICMBio / DF,
Gabriel Cattan - Parque Nacional da Serra dos Órgãos – PNSO / ICMBio)

bem como as instituições de montanhismo e seus representantes tais como:

a FEMERJ/CBME (Bernardo Collares),
FEMEMG (Leandro Reis), CEM (Gustavo Carrozino),
AME (Luís Monteiro, Edgardo Abreu e Pedro Leite)

participaram de forma a mostrar, principalmente, aos gestores de UC´s de Minas as experiências, bem sucedidas, com montanhismo/escalada em seus parques e UC’s e como gerir esse uso público entre outros.

Esse evento foi o “pontapé” para a consolidação de todo o trabalho que realizamos ao longo dos anos e também a criação de um grupo de trabalho denominado GT-Regulamenta, formado pela AME, IEF-MG e CECAV/IBAMA onde, ao longo de 2010, revisou e discutiu a proposta de zoneamento dos setores de escalada na Lapinha (conforme inserido no Plano de Manejo do PESU) bem como a sua execução e gestão que resultou no Projeto Piloto de Abertura da Prática da Escalada Regulamentada e Organizada no interior do PESU em 22 de Maio 2011.

Cabe salientar que, um passo muito importante foi a assinatura do Termo de Cooperação Técnica entre IEF-MG e AME, legitimando assim no órgão ambiental, as ações da AME perante as UC’s do Estado de Minas Gerais. O nosso próximo passo, agora em novembro, é tornar o projeto piloto permanente.


3 – Houve algum representante político (vereador, deputado, governador, etc) envolvido no processo de reabertura?

Diretamente não.


4 - Quais são os termos a se cumprir para a escalada ser permitida na Lapinha (PESU)?

Durante o Projeto Piloto (Maio à Novembro de 2011) os principais termos a cumprir são:

- Somente aos domingos com entrada até 13hs e saída até as 16h45min

- Número máximo de pessoas (Capacidade de Carga): 40 pessoas (simultâneas)

- Credenciamento/ (Ler, Compreender e Assinar de Termo de Conhecimento de Riscos)

- Ouvir o “Sermão da Montanha” que é a apresentação das regras a serem seguidas, feita por escaladores voluntários que disponibilizam o seu dia em prol do livre acesso à Lapinha.


5 – Houve depois da reabertura algum incidente que ameaçou o acordo realizado?

Apesar de alguns atrasos no cumprimento do horário estabelecido para a saída, a constatação de lixo na trilha e papel higiênicos em alguns locais, uma torção de tornozelo (o qual o escalador foi removido com rapidez e segurança) e talvez o mais grave até então: a abordagem e retirada, por guarda parque IEF, de escalador que entrou na Unidade de Conservação, de forma ilegal (sem assinar termo de conhecimento de risco), por trilha não autorizada, já com a capacidade de carga/dia atingida.

Não há nenhuma “ameaça” para o não cumprimento do acordo estabelecido entre as instituições.

Pelo contrário, o IEF-MG já sinalizou a favor da continuação da prática da escalada regulamentada e organizada como parte integrante dos programas de Uso Público em suas UC’s no estado, portanto, uma conquista muito importante para a comunidade escaladora/montanhista e de grande responsabilidade também.


6 – Hoje uma pessoa que reside fora do estado de MG ou até mesmo do país, como ela terá de fazer para escalar por lá?

Seguir os mesmos procedimentos dos escaladores locais (Por enquanto, não se pode realizar reserva de vaga).

Aos longos dos domingos de escalada no PESU, já recebemos escaladores de diversos estados brasileiros como também de outros países (Chile, Argentina, Espanha, EUA, Alemanha, Bulgária entre outros).

A dica é dormir de sábado para domingo no Sítio do Rod (área de escalada a 1 Km do PESU) onde se pode acampar ou em Pousadas e Abrigos de escaladores que residem na região para chegar cedo no Parque e inserir seu nome na lista de ordem de chegada.

É importante salientar que em temporadas de chuvas (Outubro à Março), a UC estará fechada para a prática da escalada caso tenha chovido muito no dia anterior ou durante o domingo.

7 – Após o processo de negociação de abertura da Lapinha, há também a possibilidade de reabertura de locais como Baú de Minas e Sete Lagoas?

Sim.

A forma como o processo foi conduzido, com seriedade, respeito e embasamento técnico fez com que ganhássemos credibilidade com os órgãos ambientais e com isso, “as portas” estão se abrindo para o livre a acesso às outras UC’s do estado para a prática regulamentada e organizada da escalada.

No caso do Monumento Natural Estadual Gruta Rei do Mato a negociação é diretamente com o IEF-MG e segue a mesma metodologia da Lapinha(PESU).

Em relação à Gruta do Baú e em outras propriedades particulares que estão contidas na APA Carste, a negociação deverá ser realizada com o proprietário da terra e gestores do CECAV/IBAMA e APA Carste Lagoa Santa.

8 – Hoje a reabertura da Lapinha é um exemplo para escaladores que possuem locais fechados?

Sim,

principalmente, no interior de UC’s e em áreas privadas de Minas Gerais.

Seguir com paciência e perseverança os caminhos da democracia não é fácil.

Foram cerca de 4 anos de conversas (com órgãos ambientais e profissionais do setor ambiental) para assegurar nossos direitos de cidadão.

Acreditamos, e apoiamos. que mais clubes de escalada deveriam atuar neste sentido, pois o estado é grande, talvez com propostas diferentes mas com os mesmos princípios adotados como no caso da Lapinha, ou seja, fundamento técnico, respeito à ética do montanhismo/escalada, ao meio ambiente(mínimo impacto), às pessoas e instituições envolvidas no processo.


9 – Hoje após esta reabertura, como está a procura para a escalada no local?

Quando o tempo esta bom, é bem comum as 9:00 hs a capacidade de carga ter sido preenchida em sua totalidade, ou seja, 40 escaladores.

Em determinados feriados e quando o tempo está ameaçando chuvas, costuma a capacidade de carga não ser totalmente preenchida portanto, sobram lugares.

10 – Para a difusão de notícias, avisos e convênios da AME como é feito?

Listas de discussão de escalada e montanhismo, Blogs, Jornais/Revistas e no site da AME: http://www.amescalada.org.br/

11 – Há alguma idéia para se realizar ou atualizar o guia da Lapinha?

Atualmente as áreas liberadas e suas vias para a escalada na Lapinha (PESU/IEF) estão todas contempladas nos guias do Eustáquio Júnior e Daniel Mariano “Escaladas de Minas” e Eliseu Frechou “Manual de Escalada Esportiva e Tradicional da Serra do Cipó, Lapinha e Rod”.

É importante dizer que as áreas que ainda estão interditadas a, medida do possível, serão negociadas futuramente com a Gestão da UC e essas deverão ser incluídas em um futuro guia que em nossa opinião, seria muito interessante se o mesmo fosse disponibilizado em uma versão digital, com fotos, ilustrações e croquis.